A decisão de fazer uma terapia psicológica é extremamente pessoal, visto que não adiante a recomendação caso o próprio paciente não esteja envolvido e comprometido com o processo. Durante as sessões, temas sensíveis, como traumas, feridas e dificuldades serão abordados e, por esse motivo, a mentira ou omissão não devem ser julgadas.
Em algumas situações, é de maneira inconsciente que o paciente mente ou evita determinados temas. Determinados fatos podem ser relembrados de maneira distorcida ou até mesmo fantasiosa para o paciente, porém representando a realidade para ele naquele momento.
A resistência, fuga do assunto e lapsos de memória podem apontar que o paciente não se sente pronto ou simplesmente ainda não quer falar sobre alguma coisa ou, ainda, que o cenário de confiança do paciente com o terapeuta ainda não foi estabelecido.
Por isso, o papel da terapia é a ajudar a pessoa a amadurecer e desenvolver-se. Durante as sessões, o paciente vai adquirindo a segurança com o psicólogo e, por conseguinte, a habilidade necessária para lidar com a realidade da vida e a tomar atitudes que podem ser eficazes respeitando seus valores e posicionamento sobre as situações. Mentir para o psicólogo funciona como um escudo para as vulnerabilidades.
Mentiroso (a) confiante
A decisão de mentir e ou omitir fatores que seriam úteis e determinantes ao processo terapêutico também pode ser decidido pelo paciente de forma consciente, como uma escolha.
Alguns motivos que podem levar à mentira:
- Vergonha de seus hábitos, fantasias, relacionamentos ou comportamentos;
- Medo;
- Não querer lidar com as consequências das próprias atitudes e/ou decisões tomadas;
- Negação;
- Medo de reviver um trauma;
- Necessidade de agradar alguém e/ou que o psicólogo o enxergue como uma boa pessoa.
Nestes casos, a mentira não deve ser entendida como um defeito ou falha moral e sim como defesa. É a maneira que o paciente encontra para evitar mais sofrimento e frustração. A terapia pode ser concebida como um processo investigativo lento e não como uma rodada de perguntas e respostas e, portanto, deve ser tratada com cautela e delicadeza.
O que podemos chamar de mentira?
Cerca de 93% das pessoas que fazem terapia oferecem ao terapeuta uma versão dos fatos que não são tão fiéis à realidade. Já falamos sobre os principais fatores que levam as pessoas a mentir, mas o que exatamente podemos chamar de mentira?
Os tipos mais comuns são:
- Mentiras absolutas: Narrativas onde se encontra muito pouca (se tiver alguma) verdade nelas.
- Segredos ou omissão: Aqui o paciente pode não mentir por completo, mas está convencido de determinados detalhes não são relevantes.
- Minimização de fatos: O paciente menciona pensamentos intrusivos, mas não é sincero sobre o impacto que eles têm em seu dia a dia.
- Meias verdades: O paciente menciona um fato, mas evita compartilhar alguns detalhes importantes sobre a questão.
- Mentirinha: Também chamada de mentira inocente, presume-se que são inofensivas já que, em geral, são motivas pelo desejo de evitar magoar alguém. No entanto, elas podem ocultar dados que podem ser muito importantes na terapia.
Mas e aí, o psicólogo sabe quando o paciente está mentindo?
A resposta mais prática é não. O psicólogo não consegue ler mentes, portanto, nem sempre dá para saber com exatidão se o paciente está mentindo para o terapeuta. Contudo, há algumas pistas na linguagem corporal e na fala que podem agir como indicativos da falta de honestidade.
Mudanças na história de uma sessão para outra, se o paciente fica nervoso demais ou na defensiva, se ele redireciona perguntas que não quer responder são aspectos que podem indicar a inveracidade das histórias.
Vale a pena mentir?
A maioria dos pacientes mentem em algum momento da terapia, no entanto, enganar o psicólogo é prejudicial ao processo.
O trabalho do psicólogo é ajudá-lo a superar os desafios que está enfrentando com compaixão, sem julgamento. Será muito mais difícil oferecer esse apoio quando o paciente é pouco honesto ou totalmente desonesto sobre essas dificuldades.


